sexta-feira, 16 de julho de 2010

Homilia XV domingo do Tempo Comum ano C

No Evangelho de hoje Jesus confirma a resposta do Mestre da Lei. Para ter a vida eterna é necessário amar a Deus de todo o coração, com toda a alma, com toda a força, com toda a inteligência e amar também ao próximo como a si mesmo. Noutra passagem Cristo afirma que estes dois preceitos – amar a Deus e ao próximo – são os mais importantes e neles estão resumidos todos os outros. Inclusive os Dez Mandamentos são um desdobramento deles – os três primeiros referem-se ao amor a Deus e os sete últimos ao amor ao próximo.

O Mestre da Lei, no entanto, segundo concepção da época, acreditava que próximos eram somente aqueles considerados amigos ou tivessem proximidade por parentesco, nacionalidade, simpatia etc. Jesus em Mt 5, 43 chega a lembrar o espírito do Antigo Testamento que dizia “amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo”. E por isso mesmo, achando que o Senhor estava exagerando no amor ao próximo pergunta: “E quem é o meu próximo?”.

Jesus responde a esta pergunta com a parábola do Bom Samaritano. Lembremos que os judeus e os samaritanos eram inimigos, nem sequer dirigiam-se palavras uns aos outros. Um ódio velado envolvia a relação mútua. Na dita parábola um judeu foi espancado, assaltado, deixado praticamente morto... Um sacerdote – portanto um judeu também como este homem – não socorreu seu conterrâneo. Igualmente um levita judaico. Para aumentar o drama da parábola, ambos eram homens religiosos que, portanto, presumiam um grande amor a Deus; no entanto pela atitude deixam claro que não amam a Deus, pois não amam o próximo. Para ver se amamos a Deus, verifiquemos como está nosso amor pelo próximo. Este amor a Deus do sacerdote e levita é uma religião de fachada, que necessitava de conversão.

Aparece o samaritano. Inimigo do judeu ferido. Ao vê-lo tem compaixão, aproxima-se, faz curativo, leva-o a uma pensão, gasta seu dinheiro para cuidar da sua vida.

Jesus faz o Mestre da Lei refletir que o samaritano, apesar de tradicionalmente não se dar com o judeu, foi também próximo dele, fazendo-o perceber assim que deve-se amar a todos, mesmo os que querem considerar-se inimigos pessoais: “Vai e faze a mesma coisa”.

O cristão deve, neste sentido, amar todas as pessoas, mesma as que não o querem bem, e, especialmente os necessitados. As pessoas que nos fazem o mal devem receber em troca nosso amor, compreensão, perdão, oração e jamais a vingança. O cristão não deve fazer o mal a ninguém, nem mesmo aos que lhe fazem o mal.

O cristão deve ser modelo de ajuda aos necessitados, como o Bom Samaritano da Parábola de Jesus. Nossas comunidades, junto com a Liturgia e a Catequese têm de ser especialista na ajuda aos necessitados, aos que nesta vida estão desprovidos daquilo que é mais elementar na vida de um ser humano, a saber: amor, compreensão pelos seus erros, fé, saúde, comida, orientação, solidariedade, teto, lar, consolo, companhia, educação, trabalho, vida digna, defesa de seus direitos, voz na sociedade etc.

Como seguidores de Jesus, o Bom Samaritano da humanidade, que estamos fazendo? Em que estamos realmente ajudando as pessoas que precisam do nosso amor? Como recebemos os pecadores que se aproximam de nós? Vamos até eles? E os pobres?

Tão importante quanto a Liturgia e a Catequese é o serviço aos pobres. Como está vivendo esta dimensão fundamental da fé a Igreja que está em Piratini e que somos nós? Como está nosso trabalho com os pobres, com os doentes, com os idosos, com os drogados, com os enlutados, com os afastados da fé etc.?

Como está o nosso amor por aqueles que não nos querem bem, e pelo contrário, até nos fazem o mal?

Para conseguirmos amar verdadeiramente todas as pessoas é necessário que amemos em primeiro lugar Deus. Não nos é difícil amá-Lo quando compreendemos que Ele é o nosso Bom Samaritano. Ele nos tirou do estado de morte do pecado onde estávamos caídos. Ele curou nossas feridas com o Seu perdão infinito. Ele colocou-nos em Sua pensão que é a Sua amada Igreja, e ali nos cuida. Ele inclusive morreu para que nos restabelecêssemos. Contemplando esse amor infinito e experimentando-o, capacitamo-nos também a amar todas as pessoas feridas pelo pecado próprio e alheio.

O mundo passa por uma fase em que não se dá mais importância ao amor de Cristo e ao amor a Cristo. Na prática não se valoriza Deus. Devemos, na contramão da moda atual, experimentarmos Seu amor – através de um encontro pessoal com Ele – e amá-Lo de todo coração, com toda alma, com toda força, com toda inteligência. Só assim amaremos verdadeiramente o ser humano, ao contrário do que ocorre atualmente, que se fala tanto de humanismo, mas paradoxalmente se interpela e se comete, até com certo costume, atentados contra o próximo, manifesta-se grande indiferença à vida humana.

É na Eucaristia que Jesus manifesta mais fortemente Sua atitude de Bom Samaritano para conosco. Sejamos também Eucaristia para os demais.

Peçamos à Santíssima Virgem que como Mãe solicita de todos nos ajude também amar Seu Filho sobre tudo e a todas as pessoas como Deus quer.

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